o corpo de papel amachucado
engole o dia, mal
não digere
não mastiga
não percebe
prende a respiração
estendida
descompassada
em arritmia
de guerra
amanhã, de manhã
depois do sonho
o café vai ser o mesmo
poesia de escrever por casa
quarta-feira, 16 de junho de 2021
arritmias
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021
a terra
desce
a alma íngreme
em voo
picado pela
gelatina da coluna vertebral.
treme todo
treme tudo.
a mão
agarra a mão
que se agarra
corrimão
que não segura nada.
retreme todo.
retreme tudo.
a terra.
agarra a mão
que se agarra
corrimão
que não segura nada.
retreme todo.
retreme tudo.
a terra.
terça-feira, 7 de julho de 2020
de cabeça
essa merda
corrói-te tudo.
corrói-te tudo.
a tua consciência
presa por um fio
presa por um fio
fino
atiras-te de cabeça
para a salvação
para a salvação
de quê?
em cada mergulho
um Graal pífio
que nunca te salvou
de coisa nenhuma
um Graal pífio
que nunca te salvou
de coisa nenhuma
tentas outra vez
como se fosse a primeira
como se fosse a primeira
esperas mesmo
que te salve
de ti
e dessa tua alma incompleta
que te salve
de ti
e dessa tua alma incompleta
não
quinta-feira, 18 de junho de 2020
eu, tu
quem és tu
que mendigas amor
que não o encontras
em nenhuma parte de ti.
que mendigas amor
que não o encontras
em nenhuma parte de ti.
quem és tu
que sonhas a coragem
que nunca
soubeste encontrar.
que sonhas a coragem
que nunca
soubeste encontrar.
quem és tu
que vives
como quem sofre
por viver.
que vives
como quem sofre
por viver.
quem és tu
que não sabes ser
o que
sabes que és.
que não sabes ser
o que
sabes que és.
domingo, 14 de junho de 2020
pingos
uma lágrima atravessa
a dor de ser
seca
sem força
sem pingo de água
sem ser lágrima.
uma lágrima
queria ser lágrima
para ser água
que atravessa a dor de ser.
uma lágrima
que queria ser lágrima
não sabe chorar
não sabe sentir a dor de ser.
seca
sem vida
sem água
sem conseguir ser lágrima.
sem pingo de vida.
terça-feira, 3 de março de 2020
coração desabitado
há um dragão que cospe
fogo gélido que acalma
fogo gélido que acalma
as entranhas, lá em baixo
uma criança de olhos postos nas estrelas
traz o medo que incendeia o corpo.
e cima da mesa um copo
sem vinho,
sem alma,
sem o sentir da gente.
uma criança de olhos postos nas estrelas
traz o medo que incendeia o corpo.
e cima da mesa um copo
sem vinho,
sem alma,
sem o sentir da gente.
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018
ao pé de mim
pé no chão
pé na terra
sem arredar, pé
na linha da estrada
sem desviares, um milímetro
do caminho que conheces de cor.
pé no chão
pé no travão
sem travares a vida que não é a tua.
talvez alguém a conduza, por ti
guino o destino e saio na primeira, à direita
da tua certeza.
pé no chão
pé no sonho
abres os olhos
cegas o caminho
sem te perguntares porquê.
pé na terra
sem arredar, pé
na linha da estrada
sem desviares, um milímetro
do caminho que conheces de cor.
pé no chão
pé no travão
sem travares a vida que não é a tua.
talvez alguém a conduza, por ti
guino o destino e saio na primeira, à direita
da tua certeza.
pé no chão
pé no sonho
abres os olhos
cegas o caminho
sem te perguntares porquê.
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